segunda-feira, 13 de junho de 2011

Marbelha - Espanha

Associo Marbelha à minha mais tenra infância e às férias que então fazia, à semelhança de tantas outras famílias portuguesas que queriam mudar de ares sem ter de ir procurar muito longe. Depois, com o passar dos anos, perdi-lhe o rasto e os hábitos mudaram. Não devo ter sido o único.

Marbelha, que, na realidade, não é só a cidade, mas também todo um município que ocupa boa parte da costa mediterrânica da província andaluza de Málaga, foi lançada para a ribalta nas décadas de 1950 e 60 – conta-se que em boa parte se deveu a um tal príncipe Alfonso Hohenhole von Liechtenstein, que terá comprado aqui dez hectares à beira-mar, mais tarde transformados no Marbella Club, e os tornou porto de abrigo dos seus amigos influentes. No entanto, já se sabe, quem se molda aos caprichos dos ricos e famosos está sempre sujeito a, um belo dia, ser posto de parte para dar lugar a uma nova distracção.

Foi o que aconteceu durante a década de 1980, altura em que Marbelha não saiu das revistas do corazón espanholas nem perdeu os favores dos sheiks árabes, mas deixou de ser o destino-sensação do jet set internacional. O golpe foi duro e Marbelha demorou um certo tempo a perceber que novo rumo poderia tomar para não perder mais terreno. Foi então, já a partir da década de 1990, que tratou de sacudir a poeira, capitalizar ao máximo o que possuía de bom – como o clima, as praias, as marinas e a hospitalidade andaluza – e investiu a fundo num novo perfil de turista, que vem agora, e cada vez mais, pelas excelentes condições para a prática de golfe.



Inaugurado em Maio de 1970, com pompa e muita gente de circunstância, Puerto Banús depressa se tornou um dos portos mais concorridos do Mediterrâneo. Gloria, rua pitoresca do centro histórico de Marbelha; staff do Puro Oasis del Mar, em Estepona; praia da Fontanilla.

Fixado o novo mercado-alvo, mas sem nunca perder de vista que foi e quer continuar a ser uma estância de veraneio com pretensões a figurar nas colunas sociais, Marbelha tem vindo a expandir-se, nem sempre de forma muito airosa do ponto de vista do ordenamento urbanístico, e goza hoje de um elevado padrão de vida, o que faz dela a segunda cidade do mundo com maior registo de Rolls-Royce, por exemplo, e um lugar muito procurado por estrangeiros que, mais do que a elegerem como destino de férias, a escolhem para segunda residência durante boa parte do ano.

Marbelha virou-se para o futuro. Ainda assim, as novas avenidas, como a del Mar, que vai do centro à Playa de Vénus; os passeios públicos, como o renovado Maritimo, que ladeia a Playa de la Fontanilla; as artérias comerciais, como a Severo Ochoa ou a Ricardo Soriano, onde ficam as melhores lojas; ou até mesmo jardins como o de la Constitución, com um auditório no meio, por mais agradáveis que sejam, não têm como rivalizar com o casco antigo da cidade.

Com o seu epicentro na Plaza de los Naranjos, toda ela rodeada de edifícios nobres, mas tomada de assalto pelas esplanadas dos cafés e restaurantes que disputam a calçada e a sombra das laranjeiras, o núcleo histórico está praticamente reduzido a um dédalo de ruas pitorescas – sendo as mais fotogénicas a Carmen, com os vasos de sardinheiras presos nos muros caiados de branco, e a Gloria, sinuosa, que desemboca na pracinha da igreja da Nossa Senhora da Encarnação – e de algumas praças, como aquela onde fica o castelo e parte das antigas muralhas árabes que defendiam a cidade dos ataques inimigos. É aqui, e praticamente só aqui, que sentimos que da legítima herança andaluza nem tudo foi feito tábua rasa na Costa do Sol.

Mais do que apenas uma cidade, Marbelha é todo um município que ocupa boa parte da orla marítima da costa do sol

Marbelha possui também tradição na alta gastronomia, pelo que um punhado dos seus restaurantes exibe mesmo o selo de garantia da Michelin, como é o caso do Buenventura, com o qual me cruzei quase por acaso quando me passeava pelas imediações da Plaza de los Naranjos. A minha curiosidade maior, porém, era a de conhecer Dani García, o único com estatuto de chef estrela na cidade. Só que, na impossibilidade de degustar as experimentações do mago – seguidor confesso da gastronomia molecular, desta feita aplicada à cozinha andaluza –, por o seu Calima se encontrar em reforma na altura da minha passagem pela cidade (o restaurante reabre este mês), resolvi ir ao Messina.


O clima benfazejo de Marbelha permite que clubes de praia como o Oasis del Mar, já na estrada a caminho de Estepona, mantenham as suas portas abertas durante todo o ano, fazendo as delícias dos que chegam, em especial, do Norte da Europa. Uma marroquina, funcionária de Carolina Herrera, em Puerto Banús; sala do restaurante Messina

Situado numa avenida que vem na continuação da comercial Ramón y Cajal, o nome Messina remete-nos para uma comuna da Sicília, o que não é de estranhar se tivermos em conta que o seu chef executivo, Mauricio Giovanini, é de origem italiana. Mas não vá à espera de uma cantina ou algo do género. Aberto apenas ao jantar, o Messina é declaradamente contemporâneo na decoração e no cardápio, onde figuram combinações inusitadas como Atum em flan de cogumelos e gengibre à la plancha com gelado de coco ou ainda lasanha ibérica com maçã caramelizada.

Em Marbelha, sê romano
Há quem diga, e com razão, que, não obstante o grande número de hotéis existente no município de Marbelha, continuava a faltar aqui um hotel mais pequeno, de atmosfera intimista e atento às particularidades do seu centro histórico. O Claude (C/ San Francisco, 5, www.hotelclaudemarbella.com) levou cinco anos para abrir as suas portas, mas veio finalmente criar uma alternativa credível para os viajantes mais exigentes em matéria de design. O hotel está instalado numa casa senhorial do século XVII, outrora pertença do bon vivant e boémio Juan Berjano, graças ao empenho dos seus enteados Franz e Desiree Willmes. A conversão da casa em hotel-boutique esteve, por seu turno, a cargo de Maria Willmes, casada com Franz, e de Angel Gordon, um arquitecto de Barcelona. Houve o cuidado de manter a essência da casa, não alterando o seu pátio central, e de respeitar os materiais, mas porque estamos no século XXI e os hóspedes já não dispensam certos confortos hi-tech, cada uma das setes suites personalizadas – com nomes tão sugestivos como Francesca, Contemporanea, Savannah ou Provenza – disponibiliza plasmas e iPods. Com uma educação e formação multiculturais, os Willmes pretendem também fazer do Claude um local de convívio com espaço para música e teatro.

Assumo que, regra geral, a minha preferência vai para propostas como a anterior, só que a verdadeira hospitalidade, essa não a encontrei ali, mas sim no Villa Padierna. Desemboquei no Padierna já a noite tinha descido sobre Marbelha, pelo que não foi óbvio acertar à primeira no quilómetro 166 da estrada de Cádiz, a entrada para a urbanização Flamingos Golf. De dia fica tudo mais fácil e torna-se evidente que, por mais que alguns mamarrachos estejam a tomar de assalto as colinas que circundam o hotel e o seu belíssimo campo de golfe, o edifício rosado, inspirado numa vila toscana, resplandece entre os seus concorrentes.


Terra de oportunidades para muitos, Marbelha é a segunda cidade
do mundo com o maior número de Rolls-Royce

O estilo neoclássico da sua arquitectura e a profusão de pátios, cerâmicas, estátuas e bustos de mármore podem parecer uma colagem forçada à Antiguidade, mas não é assim tão despropositado se nos lembrarmos de que os romanos, muito antes dos árabes, passaram pela Andaluzia. Depois, o Villa Padierna, que integrou recentemente a cadeia Ritz-Carlton – o que fez com que, desde logo, disparasse o número de hóspedes norte-americanos –, é daqueles casos em que até o kitsch se pode tornar deliciosamente agradável à vista. Disso é exemplo o Thermae Spa, sem dúvida o mais impressionante de toda a Costa do Sol, com uma área de 200 metros quadrados e chancela da E’SPA, que só não nos faz sentir nos antigos banhos romanos – e para tal ajudam as estátuas de deuses e os corpos desenhados em proporções perfeitas nas paredes – porque tomara os romanos de antes terem as mordomias dos legionários estrangeiros de agora.

O campo de golfe do Rio Real, um dos mais antigos, é um dos muitos que fizeram de Marbelha um destino de eleição para a prática desta modalidade. Salão do Sentidos en Rio Real, a lembrar a atmosfera informal de uma moradia californiana; mesquita construída pelo rei da Arábia Saudita; quarto do Rio Real; e Puerto Banús

No Padierna cabem apenas 112 quartos, mais do que um restaurante, bar, salões, uma piscina em cascata e vários balcões e pérgolas debruçados sobre os greens e o lago. Foi com esta paisagem que me regalei, certa manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço e ganhava coragem para cair de novo na estrada.

Na terra dos ricos e dos wannabe

Quem seguiu a série norte-americana The O. C., passada em Orange County, uma terra de meninos ricos e mimados na Califórnia, não se importará, espero, que eu me aproprie do seu título para introduzir Puerto Banús, a quem os íntimos, avessos a nomes compridos a menos que seja para fazer valer os pergaminhos e separar as águas, preferem chamar apenas de Puerto ou Banús.

A entrada faz-se por altura do quilómetro 175 da movimentada estrada de Cádiz, a meio caminho entre San Pedro de Alcántara e Marbelha. Entrincheirado entre a montanha e o mar, com vias rápidas pelo meio, que pouco ou nada devem à beleza, mas que facilitam os acessos, Puerto fez parte do plano inicial de expansão de Marbelha para oeste, pois a toda a volta de um dos mais importantes portos do Mediterrâneo – com um volume anual de visitantes estimado em cerca de 4,5 milhões – estão algumas das urbanizações mais milionárias e vigiadas de toda a Espanha.

Inaugurado em 1970 por Jose Banús, grande empresário da região conhecido como “o construtor do regime” por ser figura grata a Franco, Puerto deixou claro desde o princípio que vinha para acolher os muito ricos e famosos do planeta que, por essa altura, já tinham descoberto o salero e o clima benfazejo do Sul de Espanha. A prova disso foi a festa de abertura, realizada em Maio do mesmo ano, com convidados ilustres como Aga Khan, o realizador Roman Polanski, o playboy Hugh Hefner ou ainda o príncipe Rainier e a princesa Grace do Mónaco, entre as 1700 pessoas que marcaram presença, e a quem foram servidos, rezam os anais, 50 quilos de caviar Beluga, entre outras iguarias finas e muito champanhe legítimo, por um batalhão de 300 empregados de mesa vindos expressamente de Sevilha. A atracção da noite foi Julio Iglesias, um filho da terra, que terá recebido como cachet 125 mil pesetas, o que na época era (muito) dinheiro.

O cantor romântico é, aliás, nome de avenida em Puerto e a sua estrela é logo das primeiras no Boulevar de las Estrellas, que ocupa um trecho da principal avenida, a Jose Banús, onde decorre, todos os sábados de manhã, um importante mercado de rua. Antonio Banderas, outro filho pródigo que empresta o nome a uma praça local, é mais um dos estrelados, a quem se juntará, em Agosto, a duquesa de Alba, a mulher com mais títulos de toda a Espanha.


O villa padierna, que integrou a cadeia Ritz-Carlton, recriou no seu spa
o esplendor das antigas termas romanas

Mas não é por aí. Sejamos sinceros, ninguém vem até Puerto Banús para ficar de olhos postos no chão; tão pouco para admirar o Rinoceronte vestido con puntillas, um mastodonte de três toneladas e meia criado por Salvador Dali em 1956 – na sequência do seu filme surrealista La Aventura Prodigiosa de la Encajera y el Rinoceronte. A verdadeira passarela da fama tem lugar nas ruas coladas à marina, onde, entre o cais 0 e o 8, se encontram atracados alguns dos iates mais potentes e caros do mundo – diz a propaganda que não há aqui nenhum modelo avaliado em menos de um milhão de euros –, entre eles o do próprio rei da Arábia Saudita.

Piscina, em cascata, do Villa Padierna; prato de salmão preparado pelo chef do hotel (também na foto); Plaza de los Naranjos, epicentro por excelência do casco antigo da cidade de Marbelha, ladeada por edifícios nobres como a Câmara ou a Casa do Corregedor. Uma das muitas possibilidades que o Thermae Spa oferece

Com uma extensão total de 15 hectares, e com capacidade para 915 embarcações que possuam entre oito e 50 metros de comprimento, esta marina impressiona qualquer um. E não é só pelos iates. Mesmos os que não vibram com cilindradas e cavalos, como é o meu caso, não têm como ficar indiferentes ao desfile constante, a qualquer hora do dia ou da noite, de modelos Ferrari, Bentley, Lamborghini, Porsche ou Aston Martin – a propósito destes últimos, dizem as más-línguas que fazem agora a predilecção dos novos-ricos, deixando os Ferrari para o “dinheiro velho”.

Mas também aqui, como no resto da vida, nem tudo o que luz é ouro. Muitos dos mirones que posam junto aos bólides estacionados nem prestam atenção às matrículas, porque se o fizessem iam, por certo, reparar que muitos desses carros vêm de stands de aluguer... Seja como for, e por mais que as grandes fortunas e os realmente famosos procurem o recato de clubes e propriedades de acesso restrito, aqui não se contam tostões. E se topamosà légua os quem vêm apenas para “ver as montras, os barcos, os carros e, com alguma sorte, alguma celebridade”, o certo é que grande parte dos que estão de passagem – oriundos sobretudo da Grã-Bretanha, do Norte da Europa, do resto da Espanha e dos Emirados Árabes, com destaque para o Kuwait e a Arábia Saudita – vem disposta a gastar muito em pouco tempo.

Só isso justifica que as ruas do molhe acolham, à excepção de uma ou outra loja de fancaria, que mesmo assim deve facturar para se conseguir manter na área mais nobre, tudo o que é designer conhecido – Valentino foi um dos últimos a juntar-se a uma lista que já incluía Gucci, Fendi, Louis Vuitton, Jimmy Choo, Dolce & Gabbana, Versace, Carolina Herrera, entre muitos outros de igual calibre. E o negócio parece não correr mal.

Da mesma forma que os clubes e lounges da moda são avidamente disputados nas noites de Verão, que se arrastam até à alvorada de um novo dia, também as melhores mesas dos principais restaurantes, de preferência com boa vista para quem passa, não demoram muito a ficar cheias. E há de tudo, inclusive os que não são, mas gostariam de ser.

Os que vão em modas, mas nem por isso querem ou podem gastar todas as suas economias, na hora de fazer compras ou de comer um snack mais em conta, deixam as ruas do molhe e dirigem-se às imediações da Plaza Antonio Banderas, onde ficam a Mango ou a Zara, às lojas do Marina Banús Shopping Center ou até mesmo do armazém El Corte Inglés. Isto quando não vão mesmo aos outlets do Centro Plaza, um complexo comercial que fica já na urbanização vizinha de Nueva Andalucía, cheia de lagos e de moradias que pretendem recriar o estilo arquitectónico andaluz.

Oriente a ocidente
A fazer fé no que vem descrito nas brochuras turísticas, as melhores praias – ou pelo menos aquelas com um areal mais claro – encontram-se também nas imediações de Puerto Banús, com as de Nueva Andalucía, Puerto Banús e Nagüeles à cabeça. Ainda assim, para nós, portugueses, habituados que estamos às nossas praias do continente, dificilmente nos vamos render a alguma que se encontre ao longo dos 28 quilómetros de costa do município de Marbelha por outras razões que não sejam o mar temperado e a boa infra-estrutura.

Mas se é realmente isso que está em causa – ao que, já agora, não custa somar atractivos extra como badalação e gente bonita a rodos –, então mais vale logo ir directo à praia El Padrón, de extenso areal escuro, a oeste de Marbelha, já a escassos dois quilómetros de Estepona. É sobre esta praia, por altura do quilómetro 159, que fica o Puro Beach Oasis del Mar.

Quem chega aqui desavisado pode sentir-se ligeiramente baralhado ao vislumbrar da estrada um complexo, mesmo ao lado do hotel Kempinski, que lembra mais Bali do que a Andaluzia. Deixe estar que lá dentro – força de expressão, se tivermos em conta que a maioria do espaço é de arquitectura aberta –, a impressão inicial não só se confirma como vai sentir-se imbuído de outras influências, desta vez vindas do Norte de África – há quem jure a pés juntos que, nos dias mais cristalinos, dá para avistar daqui os rochedos de Gibraltar e até os Atlas marroquinos! Na dúvida, e sem ter como comprovar, vou acreditar na palavra dada.



Os sheiks, em especial da Arábia Saudita e do Kuwait, Têm resistido a modas e estão entre os principais investidores

O alto padrão de vida que se goza em Marbelha tem permitdo que os restaurantes dali se possam dar ao luxo de se fazer cobrar pelos seus serviços. O Fusion, sem estrelas Michelin, mas com estilo e boa comida, em Las Chapas, faz sucesso. Já Puerto Banús, além de iates, lojas de marca e bólides, possui um quinhão muito considerável de restaurantes, clubes e esplanadas

É óbvio que o Puro surgiu como uma resposta, e também como uma alternativa mais duradoura, ao Nikki Beach, que só funciona sazonalmente uns quilómetros à frente, mais a leste, na praia do hotel Don Carlos. Mas não deixa de ter um conceito interessante, pelo que vale a pena contar aqui um pouco da sua história. A aventura começou em 2004, com a abertura do hotel Puro Oasis Urbano, em Maiorca, a que se seguiu um clube de praia, também na ilha. Em Junho de 2006 foi a vez de Estepona, mais precisamente a nova urbanização de Laguna Village, receber o segundo – e, até à data, último – clube de praia com a marca Puro, desta feita sem estar associado a um hotel. A festa de inauguração não desiludiu e deu direito a músicos, encantadores de serpentes, dromedários e muito jet set.

Mas o que leva um clube deste género, onde se cobra pelo aluguer de uma simples cama de dia cerca de €20 e uma simples refeição não sai por menos de €25 por pessoa, a vingar e a tornar-se moda? É aqui que entra a visão, bem sucedida por sinal, do empresário sueco Mats Wahlström, que, com a ajuda da designer Gabrielle Jangeby, se tornou um especialista a explorar um nicho de mercado ávido de um conceito de boa vida, que reúne no mesmo espaço restauração, lounge, bar, praia, piscina, ioga e spa. Certo que se pode acusar estes clubes de funcionarem como penínsulas ilhadas da realidade, mas é esse mesmo o objectivo e eles não têm vergonha de o assumir. Quem chega aqui vem claramente à procura de um ambiente relaxado durante o dia, com um toque de espiritualidade asiática, e vibrante à noite, à imagem de Miami, mas sempre com uma frequência seleccionada e, de preferência, bonita.

No caso deste Oasis del Mar, onde tudo, a começar nas fardas dos próprios empregados, está mergulhado num branco intenso com alguns apontamentos de bege, castanho e dourado, foi claro o propósito de decalcar o que se faz em Bali e na Polinésia francesa a nível da arquitectura de exteriores, mas as mesas baixas, as almofadas, os poufs e as tendas que cobrem boa parte da área do recinto remetem-nos mais para a onda hippie-chic que se vive em Marraquexe; sem esquecer alguns apontamentos de design contemporâneo, que ficam sempre bem, por conta das cinco luminárias da Flos penduradas no bar ou do enorme lustre de resina vindo das Filipinas.

A música é outra constante, que se torna mais intensa, claro está, à noite, pois os DJs são parte integrante do que se pretende oferecer aqui. A comida, leve, fresca e um nada exótica nas suas combinações, está talvez sobrevalorizada, mas não causa nenhum amargo de boca. E não causa porque, goste-se ou não, mesmo quem é habitualmente do contra vai ter dificuldade em encontrar argumentos para não sorrir, como me aconteceu a mim no início de Abril, ao dar-se ao luxo de almoçar numa sombra fresca, rodeado de gente que combinava relógios Patek Philippe no pulso com chinelas havaianas nos pés, protegido do Sol, que por aquela altura já bronzeava os corpos expostos em redor da piscina. Afinal, um pouco de frivolidade nunca fez mal a ninguém.

A outra banda
A costa de Marbelha não escapou à habitual divisão entre a zona bem e a zona menos bem, mas se até agora nesta reportagem só lhe falei praticamente no que se estende a oeste da cidade, tal não se deve a nenhuma embirração pessoal – como ainda acontece com os espíritos mais conservadores da região, que torcem o nariz ao dinheiro novo e aos emergentes da banda leste.

Muito pelo contrário. Aliás, à falta de outras provas, teria sempre como exemplo o caso do Sentidos en Rio Real, o pioneiro quando se trata de falar de hotéis-boutique realmente dignos dessa designação por estes lados. Uma das coisas que mais me intrigou logo à chegada foi a galeria de fotos a preto e branco que adorna – de forma sóbria, como se quer num hotel com pretensões ao nível do design – as paredes dos corredores onde se encontram distribuídos os vários quartos. Nelas se podem ver várias figuras do jet set internacional nos anos dourados de Marbelha, pelo que julguei tratar-se de um acervo comprado para fazer um contraponto interessante entre o antes e o agora. Qual não foi o meu espanto quando, em conversa com o staff do hotel – bastante simpático e prestável, o que só lhes fica bem –, vim a descobrir que as fotos foram cedidas pela mãe de um dos proprietários do resort, o conde de Quintanilla, tida ainda hoje como uma das mais generosas anfitriãs da época em que figuras coroadas e celebridades se deslocavam até aqui, de propósito se fosse preciso, para vir prestigiar uma festa de arromba.

Situado na tranquila urbanização Rio Real, numa saída a escassos três quilómetros do centro de Marbelha, o hotel foi buscar o seu nome a um dos mais concorridos campos de golfe de toda a Costa do Sol, que se estende até ao Mediterrâneo. Mas se é um facto que boa parte dos seus hóspedes vem pelo golfe, certo também é que as vistas para a Sierra Blanca, a serenidade do pequeno spa, os passeios no iate Rio Real III, o restaurante agradável ou até mesmo a piscina rodeada de limoeiros envasados, todos eles distribuídos sem atropelos na arquitectura horizontal e arejada de Javier Arena, são, por si só, factores a ter em conta.



O Jet Set internacional  já não vem com tanta frequência, mas marbelha ganhou um lugar cativo na imprensa cor-de-rosa

Os turistas não escolhem Marbelha pela sua história, mas, ainda assim, não deixam de se encantar com o dédalo de ruas castiças e tipicamente andaluzas que escaparam à razia feita no perímetro mais urbano da cidade. Seja como for, o que marca realmente pontos com os estrangeiros  é a possibilidade de ter sol todo o ano, factor que espaços como o Puro sabem capitalizar

De qualquer forma, tenho plena consciência – como os seus proprietários tiveram com toda a certeza – de que não é isso que marca a sua diferença, pois muitos hotéis da região oferecem o mesmo até com vantagens comparativas. Os que escolhem este hotel em detrimento de outros fazem-no, sobretudo, porque não apreciam ou se cansaram dos ambientes clássicos e pesados e elegem a decoração de Pascua Ortega, que tentou recriar nas áreas comuns o ambiente informal das grandes moradias californianas, cheias de luz, de plantas e sem medo de misturar vários estilos. Confesso, no entanto, que preferi os quartos – e são apenas 29, divididos por quatro categorias, com natural destaque para as Eagle Suites e a topo de gama Albatros Suite –, espaçosos, alegres, funcionais e bem equipados com Internet sem fios de graça e até um sistema de som que permite trazer de casa o seu iPod para lhe dar música enquanto, por exemplo, experimenta a banheira de hidromassagem (apenas disponível nas suites) junto à janela.

Duas saídas depois do Rio Real, na direcção de Málaga, encontrei um outro caso de sucesso digno de registo a leste de Marbelha. Situado à entrada da urbanização Las Chapas, o Fusion encontra-se aberto seis dias da semana, entre o pequeno-almoço e o fora de horas. É um espaço moderno, com cerca de dois anos e meio, que faz as vezes de restaurante e de lounge. A cozinha está a cargo de Unai Auzmendi, jovem chef fascinado pelo que descobriu da gastronomia portuguesa durante uma curta passagem pelo nosso país.

O nome escolhido já dá uma pista, por isso não espanta começar a percorrer a carta e ver que esta se divide em sopas, wraps, sanduíches, woks, noodles, pastas e pratos que passeiam pelas tendências da cozinha moderna europeia, da cozinha francesa e da cozinha asiática. Tudo isto a preços médios e com a certeza de que a este, como a oeste, Marbelha não parou no tempo e mostra-se disposta a não perder o lugar ao sol que conquistou.


Rotas e Destinos

2 comentários:

  1. COMO IR

    A maneira mais rápida e cómoda de chegar a Marbelha passa por tirar partido das ligações aéreas entre Lisboa e Málaga, através de companhias como a TAP, a Iberia e a Spanair, com tarifas a partir de €180. A partir do aeroporto de Málaga, de táxi ou de carro, depressa se coloca em Marbelha.

    Viajar de carro desde Portugal continua a ser a opção mais recorrente para muitos – são pouco mais de 700 km e cerca de oito horas de viagem a partir de Lisboa, por exemplo –, mas só faz realmente sentido quando dispõe de vários dias e da hipótese de fazer um périplo pela região. Para o ajudar a traçar o seu itinerário rodoviário visite o site www.viamichelin.com

    CLIMA
    Se Marbelha conquistou os favores do jet set internacional muito se deve não só à sua posição privilegiada na costa sul de Espanha, mas também ao seu clima muito ameno, apresentando uma temperatura média de 18º C e uma média anual de dias de sol invejável.

    CIRCULAR
    A viagem de carro desde Portugal pode ser longa, mas, uma vez chegado ali, depressa vai perceber que é a solução perfeita para explorar toda a região de Marbelha, até porque a maioria dos hotéis fica agora localizada em urbanizações que cresceram à volta da cidade. No caso de não levar carro pode sempre optar pelo aluguer, sendo até bastante frequente encontrar turistas ao volante que alugam, por um ou mais dias, carrros de alta cilindrada para não destoarem.

    ONDE FICAR
    Existe uma variedade imensa de opções de alojamento. De toda a oferta destacamos aqui dois que mereceram a nossa preferência:
    Villa Padierna – Ctra. de Cádiz, km 166, Urb. Flamingos Golf, Marbella, www.ritzcarlton.com Construído à imagem de uma villa toscana, o Padierna está agora no grupo Ritz-Carlton, o que aumentou ainda mais a excelência do seu serviço. É, sem sombra de dúvida, o mais charmoso no seu género, contando ainda com vários restaurantes, campo de golfe e um excelente spa.
    Diárias desde €250 (consulte o site para promoções e pacotes de férias).
    Sentidos en Rio Real – Urb. Golf Rio Real, Marbella, www.rioreal.com
    Situado numa calma urbanização dominada pelo mais importante campo de golfe da região, o Rio Real possui uma decoração contemporânea, com quatro tipos diferentes de quartos e áreas comuns agradáveis. Membro dos Small Luxury Hotels of the World. Diárias desde €260 (existem preços de pacotes e promoções vantajosas, dependendo da data da viagem)

    ONDE COMER
    O elevado padrão de vida que se goza em toda a costa de Marbelha faz com que,
    mesmo num restaurante simpático mas sem nada de mais, pague facilmente de e25 a e30 por pessoa. Nessa faixa de preços vale, talvez por isso, a pena apostar em lugares mais caprichados – e onde, por norma, se pratica cozinha matizada de várias influências – como o Fusion (Salida El Rosário, Urb. Las Chapas, tel. 0034 952 839910, encerra
    ao domingo), a cargo do chef Unai Auzmendi, que combina cafetaria, restaurante e lounge; o Messina (Av. Severo Ochoa, 12, tel. 0034 952 864895, encerra ao domingo), a cargo do chef Mauricio Giovanini e que só serve jantares; ou ainda o restaurante do Puro Beach (Laguna Village, Playa del Padron, Ctra. de Cádiz, km 159, Estepona, tel. 0034 951 316699), o Oasis del Mar, um lugar perfeito para combinar sabores exóticos.
    A nível da alta gastronomia existe um punhado de restaurantes que ostenta estrelas Michelin, mas, sem dúvida alguma, o único chef realmente famoso de Marbelha atende pelo nome de Dani Garcia, tanto que o seu restaurante, o Calima (Av. José Meliá, tel. 0034 952 764252, a funcionar no hotel Gran Meliá Don Pepe), se tornou célebre por praticar e inovar a cozinha andaluza segundo os preceitos, agora em voga, da gastronomia molecular.

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  2. ONDE COMPRAR
    O comércio no centro histórico de Marbelha está seguramente mais padronizado e virado para o turismo, mas ainda assim vai poder encontrar algumas propostas interessantes, como seja a de uma loja especializada em brinquedos antigos ou uma outra que só vende roupa em algodão egípcio. De toda a forma, a principal artéria onde tudo acontece dá pelo nome de Avenida Ricardo Soriano e é ali, entre muitos outros, que vai encontrar a nova loja do catalão Andres Sarda (n.º 12), com linha própria de fatos de banho e lingerie, além de sapatos de Pura López e Dorotea. A curta distância do centro de Marbelha, a marina de Puerto Banús é a grande Meca de consumo com grandes marcas internacionais como Lanvin, Valentino, Dolce & Gabbana, Gucci, Carolina Herrera ou Louis Vuitton, só para citar os mais óbvios. Fora do perímetro da marina o comércio nãoé tão luxuoso e encontra até mesmo um armazém El Corte Inglés à entrada do porto.

    ACTIVIDADES
    O grande atractivo de Marbelha continua a ser o do passeio, pois está relativamente perto das aldeias de Ojén e Benahavís, de Málaga, de Ronda, de Torremolinos ou até mesmo de Granada e da província de Cádiz, onde ficam também Gibraltar, Algeciras e a concorrida estância de Tarifa. É também um excelente destino para uma escapada média, sobretudo para quem gosta de golfe e de actividades náuticas.

    De assinalar também que nos últimos anos esta costa recebe inúmeros concertos de música rock e pop, festivais internacionais de teatro e de gastronomia, já para não falar das festas de Verão, entre as mais famosas de Espanha, como é o caso da dedicada ao patrono da cidade, San Barnabé, no dia 11 de Junho.

    MAIS INFORMAÇÕES
    Consulte os sites www.spain.info (Turismo Espanhol) e www.marbella.costasur.com (informação em português).
    Livros: guias prestigiados como a Lonely Planet, Routard
    ou a American Express possuem edições dedicadas exclusivamente à Andaluzia.

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