segunda-feira, 27 de junho de 2011

Hotel Hapimag aposta na autenticidade com jardim mediterrânico

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ana sofia varela Ver Fotos »
Jardim Mediterranico do Hotel Hapimag em Albufeira

Autenticidade e sustentabilidade são duas palavras que servem na perfeição ao Jardim Mediterrânico que tem vindo a ser desenvolvido, há dois anos, no Hotel e Resort Hapimag, em Albufeira, pela empresa Cláudia Schwarzer Arquitetura Paisagista.
É que este projeto pretende recuperar no resort, que já tem 15 anos, a paisagem natural, idêntica à que existe nos campos do Algarve, substituindo os relvados. Ao mesmo tempo, ambiciona reduzir a fatura da água e terminar com a mistura de espécies autóctones, exóticas e invasoras.

O objetivo é ainda reduzir os efeitos nefastos da utilização de relvados, que necessitam de mais manutenção, de muito adubo e água. Os fertilizantes podem ainda contribuir para a contaminação do solo e do nível freático.


«Muitos resorts têm no jardim apenas relvado e palmeiras. Se o cliente espreitar pela janela não sabe se está na Califórnia, na África do Sul ou na Tailândia», afirmou Cláudia Schwarzer, proprietária da empresa, enquanto mostrava a vertente concretizada do jardim mediterrânico ao «barlavento», na sexta-feira passada, Dia Mundial de Combate à Desertificação.


Com mais de 50 hotéis, o grupo suíço Hapimag resolveu dar mais significado à autenticidade, tendo começado por criar um programa que adequa os pratos servidos nos seus restaurantes à zona onde se inserem.


Quando o casal de empresários apresentou o projeto «de transformação dos espaços verdes do resort no Algarve num jardim natural mediterrânico», o grupo percebeu que este projeto tinha o mesmo conceito do que o que estava a ser feito com a gastronomia, explicou Udo Schwarzer.


«A direção do hotel estava consciente de que nos seus jardins tinham acácias (espécie invasora), mas que tinham que reverter a situação. Procuravam uma solução diferente, sem saber exactamente o quê», acrescentou Cláudia.


Depois de aceite esta intervenção pelo grupo suíço, o primeiro passo foi estudar o clima da zona para compreender que espécies se adaptariam ao local.


«Chegámos à conclusão que o nível de pluviosidade anual é de 350 mm e, se olharmos apenas para este indicador, o clima é quase semi-desértico, podendo a estiagem, neste local, chegar aos oito meses», avançou o empresário.


A equipa fez ainda um levantamento de todas as espécies existentes no empreendimento (plantadas e que nasceram espontaneamente).


Depois de elaborado todo o planeamento, a equipa começou a trabalhar nas áreas que consideraram mais urgentes, como as grandes extensões de relvado.


Por isso, e como o projeto ainda não está concluído, ainda é possível encontrar em pequenos espaços plantas que necessitam de muita água, com outras que não precisam tanto. Mas esta é uma situação que com a manutenção e com as indicações dos empresários terá tendência a se transformar.


«É uma mistura que existe muito, mas que, no nosso entender, não se pode fazer e é isto que nós tentamos reorganizar neste espaço», salientou Udo. Um dos exemplos desta situação é a colocação de uma oliveira, que necessita de pouca água, no meio de um relvado.


Assim, o projeto avançou com a renaturalização do jardim na entrada do resort, que passou a ser um género de montra para o que foi criado no interior. E foi quando a equipa retirou as acácias (espécies invasoras) deste local que descobriu o tesouro que já residiu naquelas terras.


«Pegámos naqueles restos da vegetação original para virar o jardim numa direção diferente e concretizar o objetivo da intervenção, usando plantas indígenas», revelou a empresária.


No interior do resort, a política seguida foi a mesma, sendo que apenas resistirão à intervenção três zonas de relvados: um porque é utilizado como campo de jogos, outro para churrascos e música ao ar livre e outro ainda, junto à piscina, onde são colocadas espreguiçadeiras.


Para a empresária, manter estes espaços não será um gasto desnecessário, pois são bastante utilizados no resort.


Já as espécies exóticas que estavam espalhadas, foram agrupadas numa outra parte do terreno. «Devido ao seu valor económico, foram todas colocadas num único espaço», avançou Cláudia.


Ainda assim, o sucesso do projeto tem sido tão grande junto aos clientes, que já há quem pergunte, quando é que aquelas espécies são substituídas por vegetação natural.


O projeto, que não pretende apenas plantar espécies autóctones, mas também reconstruir a vegetação natural do local, já transformou 4500 metros quadrados de relvado, o que levou à poupança, em 2010, de mais de 11 mil metros cúbicos de água.


E como será um jardim natural, é previsível que a rega diminua com o passar dos anos, visto que as plantas se adaptam ao clima e ao local onde estão inseridas.


No jardim mediterrânico do Hotel e Resort Hapimag, situado no interior do empreendimento, foram plantadas qualquer coisa como cerca de 12 mil plantas, mil gramíneas, 500 plantas vívazes, 9325 espécies de arbustos e subarbustos de espécies autóctones e175 árvores, das quais 90 são oliveiras. Foram eliminadas 50 acácias.


Entre as espécies plantadas encontram-se ainda as alfarrobeiras, os pinheiros mansos, os zambujeiros, tomilhos, rosmaninho, perpétuas da praia, roselha grande, alecrim ou a palmeira-anã.


Mas nem sempre foi tarefa fácil encontrar as plantas, como o tomilho algarvio, para comprar, pois segundo Cláudia, em Portugal não há produção destas espécies.


«Muitas plantas vieram do sul de França, de um viveiro especializado, porque não há produção em Portugal. Só recentemente abriu na zona do Montijo um novo viveiro que tem plantas das zonas dunares, o que já é bom, mas que ainda não serve para este projeto», esclareceu Udo Schwarzer.


Marilyn Kahan, coordenadora da equipa de jardinagem no empreendimento, contou ao «barlavento» que não teve dificuldade em adaptar-se ao projeto, pois já conhecia algumas plantas mediterrânicas. «O problema é mesmo encontrar as espécies» para comprar e trabalhadores que não sejam resistentes a ideias novas, ilustrou.


O Hapimag em Albufeira passou, assim, a ter, além de um jardim com ervas aromáticas usadas na gastronomia da região, um viveiro para ter sempre à mão as plantas que necessitam e um espaço de compostagem, onde é feita a trituração de ramos e troncos de árvores.


«Cortámos mais de 50 acácias no resort, sendo que depois usámos este material triturado para tapar a terra do jardim, pois é uma forma de manter a água mais tempo, da terra ficar mais solta e de melhorar o solo», concluiu Cláudia. A espécie invasora retorna ao jardim, mas de forma sustentável.


A filosofia do projeto pretende dar uma paisagem natural ao resort, em vez dos habituais canteiros ajardinados que se tornaram populares. A intervenção promove, desta forma, a preservação da vegetação original.


Com o corte das acácias, a arquiteta Cláudia Schwarzer, contou ainda ao «barlavento» que foram encontradas diversas linhas de oliveiras, alfarrobeiras nalgumas zonas do resort. «Estavam escondidas pelas acácias», disse.


A paisagem a sul do resort, numa zona de falésia e de Reserva Ecológica Nacional, foi uma imagem guia para a intervenção, que continuará a ser desenvolvida neste empreendimento de Albufeira.

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