quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pinhão - Estação-museu à beira do Douro

A estação do Pinhão é uma das mais bonitas de Portugal.Florida, bem conservada e com uma fascinante decoração a azulejo é mais que um edifício puramente utilitário –já entrou nos roteiros turísticos do Douro Vinhateiro, Património da Humanidade, havendo quem a venha visitar de propósito.

Estação do Pinhão

Estaçao do Pinhão

Douro

Douro

Douro
Já chamaram ao Pinhão: histórico entreposto de Vinho do Porto, o miocárdio do Douro Vinhateiro. Esta pitoresca povoação, situada na margem direita do Douro, no ponto onde o rio Pinhão desagua, apresenta múltiplas marcas da actividade económica que a fez nascer: armazéns, adegas e escritórios das diversas casas produtoras que aqui se foram desenvolvendo a partir de finais do século XIX. O comboio chegou aqui em 1880 e contribuiu para a rápida expansão do que antes era um insignificante povoado. Para norte, através dos cabeços de xisto retalhados pelos socalcos vinhateiros, partem as estradas para Favaios, Alijóe Sabrosa, locais-chave do Douro Vinhateiro, Património da Humanidade.
A estação recebeu, em 1937, os painéis de azulejo que, ainda hoje, fazem a sua fama. É seu autor J. Oliveira, artista que também decorou outras estações portuguesas, com o Outeiro (Linha do Oeste) e Santarém (Linha do Norte), sendo o fabrico da casa Aleluia, de Aveiro, historicamente ligada ao azulejo ferroviário. São duas dúzias de painéis que cobrem a quase totalidade das paredes do edifício principal e que valem, quer do ponto de vista estético, quer histórico, por representarem aspectos já desaparecidos do Douro Vinhateiro. Têm, ainda relevância etnográfica, por ilustrarem com rigor trajes tradicionais e diversos aspectos da vindima duriense tradicional.
O próprio Pinhão tem honras de representação nestes azulejos através de uma vista onde está em evidência a ponte metálica para a margem esquerda do Douro. Outras paisagens dos arredores foram imortalizadas nos painéis, para além de uma perspectiva do Douro para jusante, correspondendo ao que se pode observar a partir do próprio cais. Há uma vista que não é daqui mas de uns quilómetros a jusante. Éo Douro visto do miradouro de São Leonardo da Galafura (entre a Régua e Vila Real), ao qual Miguel Torga chamou «um navio de penedos a navegar num mar de mosto».
Os azulejos também representam paisagens desaparecidas devido à construção da vizinha barragem da Valeira. É o caso do rápido do Douro conhecido como Cachão da Valeira hoje transformado num pacífico espelho de água, a montante do Pinhão. O mesmo se diga da Ponte da Ferradosa (onde a linha do Douro passa da margem direita para a esquerda, onde se manterá até ao Pocinho e Barca d’Alva) que foi submersa devido à construção da referida barragem. A ponte actual situa-se 1,5 km para montante da antiga, tendo o antigo edifício da estação sido reconvertido para restaurante panorâmico.
No plano etnográfico são interessantes os azulejos que fixam uma série de momentos da vindima. Há mulheres a vindimar no meio das cepas e homens caminhando penosamente com cestos carregados de uvas àcabeça. Dois trabalhadores são representados com o traje tradicional feito de palha, para proteger da chuva e do frio, a croça. Vê-se, também, o transporte dos pipos de vinho em carros de boi até aos barcos rabelos que os aguardam para navegar, carregados, até Vila Nova de Gaia.
Quem disse que uma estação só servia para apanhar o comboio?

Nenhum comentário:

Postar um comentário